POR QUE A CHINA QUER O PARÁ?

No início do ano passado o Pará ultrapassou o estado de Minas na produção mineral. As atividades minerárias dão uma boa ideia do perfil da economia paraense especializada em exportar commodities. A quase totalidade dos minérios extraídos é exportada, sendo 76,3 % de ferro, 17,5% de cobre, tem menor participação: bauxita, manganês, alumínio e caulim. A Ásia é o destino de 80% dessa exportação, 60% vão para a China.

Desde a década de 60, o Pará adquiriu importância estratégica no projeto de aceleração do crescimento econômico nacional, o setor mineral vem se expandindo e se desenvolvendo. No período do governo militar, se criaram órgãos especiais, fundos de desenvolvimento, incentivos fiscais, aberturas de estradas, portos, além de incentivo não apenas a mineração, mas a outros segmentos da economia paraense, que promoveram a imigração, estímulos à agricultura, pecuária (atualmente o Pará é o maior exportador de boi em pé do país), atividade madeireira e industrialização.

Uma das medidas para viabilizar os investimentos foi associar capital estatal, nacional e internacional através de joint venture. Desse esforço surgiram os “grandes projetos”, que ficaram conhecidos na literatura porque são empreendimentos que se destacam pela gigantesca infraestrutura, intenso uso de mão de obra, elevado investimento, tais como Projeto Ferro Carajás, Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Albras, Alunorte, Projeto Trombetas, etc.

As joint ventures da década de 60 abriram as portas para o “grande capital”, o qual se enraizou no Pará e ditam o rumo de seu dinamismo econômico e atualmente se destacam as seguintes empresas: Imerys (França), Norsk Hydro (Noruega), Yara (Noruega), Oxbow (EUA), Cadam (EUA), Mitsui (Japão), State Grid (China), Belo Sun mineração (Canadá), South32 (Austrália), Rio Tinto (anglo-australiana), Cargill (EUA), Anglo (Reino Unido), Nexa Resources (Luxemburgo), Altamira Gold (Canadá) International Paper (EUA), Alcoa (EUA), China Communication Construction Company-CCCC (China) e grandes empresas nacionais como VALE S.A, CBA, Votorantim, CEMIG, LIGHT, ALUBAR, Eletrobrás, BNDES, CELBA, BRADESCO, AGROPALMA, NATURA, também de fundos de pensão nacionais: PREVI, PETROS e FUNCEF.

Em 1997, no governo de FHC a privatização da Companhia Vale do Rio Doce sacudiu a economia paraense, abrindo espaço para outras empresas atuarem no setor mineral. Surpreendentemente, em 2010, a Norsk Hydro adquiriu a Alunorte e Albras, esta é o maior consumidor individual de energia do Brasil, além das minas de bauxita, portanto, controlando todo o ciclo do alumínio, do minério de bauxita ao metal, passando pela alumina. A Norsk Hydro é uma empresa controlada pelo governo da Noruega. A empresa Vale atualmente é uma empresa de capital aberto e que tem a seguinte configuração de sua propriedade: 49% das ações pertencem aos fundos federais: PREVI, PETROS e FUNCEF, 11,5% ao BNDES e 18% a Mitsui. Assim, o governo federal, tem 60,5% das ações, portanto, a União continua dona da Vale.

No dia 17 de julho de 2019, a Usina de Belo Monte, no rio Xingu se tornou a maior usina hidrelétrica do Brasil, aproximadamente 90% do capital social da usina pertencem às empresas do grupo Eletrobras, aos fundos de pensão PREVI, PETROS e FUNCEF e às estatais estaduais CEMIG e LIGHT.

Na região da Província de Carajás ou sistema norte a empresa Vale extrai manganês (Mina do Azul), níquel (Mina Onça Puma), cobre (Mina do Sossego), especialmente ferro, produto mais importante exportado pela empresa, destaca-se a mina S11D (Serra Sul de Carajás) — maior empreendimento de sua história, inaugurada no final de 2016 que sozinha produz 90 milhões de toneladas anualmente. Em 2019, a Vale vendeu mais de 300 milhões de toneladas de minério, sendo a maior parte extraída do subsolo paraense e escoado pelo maior trem de carga do mundo. O Pará, também é o maior produtor nacional de caulim, a empresa Imerys (França) se destaca nesse segmento.

Nos últimos anos chamou atenção à movimentação das empresas estatais chinesas em alguns importantes empreendimentos no Pará, destacando-se, a atuação da State Grid, que hoje é a maior proprietária de linhas de alta tensão e extensas da Amazônia, especialmente do linhão que leva energia de Belo Monte, no rio Xingu até Estreito em Minas Gerais com mais de 2.500 km, além de outros que alcançam mais de 10 mil km de extensão nos demais estados do país. Também, a proposta de construção da Ferrovia Paraense de 1, 3 mil quilômetros de extensão e custo de 14 bilhões de reais, empreendimento que se for concretizado como tudo indica, será um novo eixo de crescimento econômico no Pará. O projeto da ferrovia teve início com assinatura do memorando de entendimento, em novembro de 2017, pelo governo estadual com um grupo empresarial do setor ferroviário e um fundo financeiro, ambos da China, ato que ocorreu na embaixada chinesa, em Brasília. Na primeira quinzena de novembro de 2019, foi dado prosseguimento com a assinatura do protocolo de intenções para estudos de viabilidade econômica, o qual foi assinado pelo atual governador e representante da China Communication Construction Company (CCCC).

Destaca-se que a China é o principal mercado dos minérios extraídos do Pará, que a State Grid, estatal chinesa de energia é proprietária de boa parte das linhas de alta tensão do Pará e da Amazônia e que empresas chinesas estatais do setor ferroviário estão dispostas a construir e operar a ferrovia paraense, a qual visa ser um importante escoadouro de minério e grãos até o porto da Vila do Conde, em Barcarena, bem como visam integrar essa ferrovia ao sistema norte-sul.

Observa-se que o crescimento do interesse chinês pelo Pará decorre do fato desse país ter se transformado numa potência industrial mundial e demandas crescentes de recursos naturais, os quais esse estado tem em abundância, especialmente minérios, matéria-prima que lhes interessam. Outro fator decisivo é a grave carência de capital nacional para investir em infraestrutura, principalmente depois de sucessivos escândalos de corrupção nas últimas décadas, que levaram o Brasil a pior recessão de sua história, tornando o país refém de qualquer potência imperialista motivada em exercer dominação sobre setores estratégicos aos seus interesses, como é o caso da China. Além disso, os chineses já ultrapassaram os japoneses, que eram o principal cliente desde década de 80 das exportações paraenses.

Embora, considerando-se que é significativo o número de empresas estrangeiras instaladas no Pará, os chineses vieram se somar aos outros investidores, que já estavam há mais tempo por aqui, ou aos que chegaram recentemente como os noruegueses, franceses, canadenses e japoneses, ou aos mais antigos, como os norte-americanos e britânicos. Numa visão otimista, que venham mais investidores, numa visão pessimista o Pará é um estado colonial por excelência.

 

As referências:

Governo garante início da Ferrovia Pará em 2021, obra de R$ 7 bilhões. Disponível em: https://agenciapara.com.br/noticia/16323/12/11/2019 Acesso em 28 de mar de 2020.

Chinesa State Grid conclui testes de linhão de transmissão da usina de Belo Monte. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2019/08/23/chinesa-state-grid-conclui-testes-de-linhao-de-transmissao-da-usina-de-belo-monte.htm Acesso em 28 de mar de 2020.

Pará ultrapassa Minas e se torna maior minerador do Brasil. Disponível em: https://www.zedudu.com.br/para-ultrapassa-minas-e-se-torna-maior-minerador-do-brasil/ 25/01/2020 Acesso em 28 de mar de 2020.

Vale inaugura o maior projeto de minério de ferro de sua história. Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/vale-inaugura-o-maior-projeto-de-minerio-de-ferro-de-sua-historia/ 17/12/2016 Acesso em 28 de mar de 2020.

Pinto, Lúcio Flávio. Jornal Pessoal. Edições de 2016, 2017 e 2018. Acesso em 28 de mar de 2020.

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